O debate pelos diferentes métodos de estudo é polémico. Uns dizem que aprendem melhor com esquemas, outros a ler e reler matéria, outros a ouvi-la e outros até a colocá-la em prática; a verdade é que estudos mostraram que preferências por um estilo específico de aprendizagem pouco importa para o resultado final do trabalho. Existem métodos que resultam melhor que outros independentemente das preferências.
Infelizmente, ao longo do nosso percurso académico, pouco ou nada nos ensinaram sobre como estudar. Sempre nos deram deveres e material para isso, mas nunca nos ensinaram a meter as mãos na massa e a trabalhar de forma mais eficiente. Preocuparam-se mais com o resultado final do que com a forma como chegámos até ele. Assim, criámos crenças erradas sobre como estudar e tomámo-lo como chato e difícil por natureza.
Mas não tem de ser sempre assim, como vais aprender ao longo deste artigo. Muitos desses sentimentos passam pela forma como estudamos e não pelo estudo em si. Vamos começar por ver alguns métodos de estudo que deves abandonar.
Alguns métodos ineficazes
- Ler e Reler
Frequente de ser utilizado, porém, pouco eficiente. Ler não mergulha o estudante de forma suficientemente ativa no estudo, ficando difícil reter a informação.
- Sublinhar
Todos nós em algum momento da nossa vida já sublinhámos alguma coisa enquanto estudávamos. Costuma dar a sensação de que estamos a ser produtivos, quando vemos os apontamentos todos sublinhados. Mas infelizmente, após todo esse trabalho, pouco ou nada foi realmente aprendido. Apenas sublinhar, também não é um método eficiente.
Métodos como estes dois têm algo em comum: passam por forçar o conteúdo a entrar. Porém, ao contrário deles, estudos mostraram que é mais eficiente forçar o conteúdo a sair. Ora questionando o que sabemos, o que lemos ou o que pensamos.
Um método mais eficiente
O que passa por ler, reler e rezar para que esse conteúdo entre nas nossas cabeças de uma vez por todas, facilmente poderá ser substituído por deixá-lo sair.
O facto de relembrar e tentar dizer ou escrever o que aprendemos, faz com que essa informação se retenha no nosso cérebro mais facilmente. Até os momentos que possamos ter de "Eureka!", após pesquisarmos a resposta de uma pergunta que não sabíamos, podem resultar como alicerces para não nos esquecermos deles. Este método traz-nos a vantagem de percebermos aquilo que sabemos e o que não sabemos, havendo sempre espaço para melhoria.
Claro que esta abordagem requer mais esforço, mas é por isso mesmo que a faz ter tantos resultados. Pois quão mais ativa a aprendizagem for, mais eficiente ela será.
Como a podemos incluir nos nossos estudos?
Em 2016, Cal Newport escreveu em "Deep Work" a fórmula:
Fica claro que o tempo que trabalhamos não é a única variável para um resultado de qualidade. Quando não asseguramos também a concentração, o trabalho final fica comprometido.
Tendo isto em conta, seguem-se algumas dicas exequíveis que poderás utilizar:
- Trabalha durante curtos períodos de tempo
Seja 25, 30 ou 45 minutos, tu é que decides o tempo. Lembra-te que não interessa se o tempo que escolheres for muito reduzido, desde que durante esse período estejas completamente focado, estás num bom caminho. Tenta não ultrapassar os 45 minutos de estudo seguido, pois a capacidade de foco diminui gradualmente ao longo do tempo. É mais eficiente tirar uma pausa de 5 minutos e retomar depois. Podes utilizar por exemplo a Técnica Pomodoro para facilitar o processo.
- Parafrasear e refletir
Como vimos, ler informação de forma passiva não é a forma mais eficiente de aprender. Escreve por palavras tuas e reflete no que leste. Questiona cada frase e certica-te que cada ponto te faz sentido e que o conseguirias explicar a uma criança de 5 anos. Isto é o suficiente para que a leitura valha a pena.
- Cria bancos de perguntas e respostas
Questionares-te sobre o tema que estás a aprender é uma excelente forma de não só perceberes se sabes o conteúdo, como também de o reteres por mais tempo. Na criação destes bancos, podes utilizar aplicações como Notion e Anki. Podes ver alguns tutoriais para te ajudar. Eu recomendo este para o Anki. Caso prefiras não utilizar aplicações, o Excel também costuma resultar bastante bem.
- Faz uma tabela com a data em que utilizaste cada banco de perguntas
A nossa memória tende a esquecer-se das coisas ao longo do tempo. É o processo natural. Mas, isso não significa que não consigamos fazer nada em relação a isso.
Digamos que hoje estudaste Biologia. Daqui a 3 dias, estudas outra vez e reparas que te esqueceste de mais de metade da matéria. Revês, e só estudas depois passado 7 dias. Ao fim de 7 dias, vais concluir que te esqueceste de alguma matéria, mas não tanta como na revisão anterior.
É assim que a memória funciona. É ao longo do tempo e faseadamente que o teu cérebro vai retendo verdadeiramente toda informação que estás a aprender.
Algumas vantagens
Estas abordagens de aprendizagem ativa não só são mais eficientes para reter informação a longo prazo, como também mostraram diminuir o niveis de ansiedade no momento dos exames finais.
Em 2014, foi realizado um estudo para perceber a relação entre um método ativo de aprendizagem - Retrieval Practice - e os níveis de ansiedade. Com uma amostra de mais de 1400 estudantes do ensino básico e secundário, concluiu-se que 92% dos alunos sentiram que este método os ajudou a entender melhor a matéria e 72% referiram que os ajudou a experienciar menos ansiedade no decorrer do exame final.
Estudar não tem de ser sempre chato e aprender não tem de ser sempre difícil. Existem métodos que nos fazem crer mais, ou menos nisso. Faz as adaptações que achares melhor ao teu e aprende realmente aquilo que estudas de forma mais fácil e prazerosa.
Notas:
Imagem da Técnica Pomodoro foi retirada de: https://www.estudaqui.com/wp-content/uploads/2019/04/tecnica-pomodoro.jpg
Imagem da curva do esquecimento foi retirada de: https://www.researchgate.net/figure/Ebbinghaus-forgetting-curve-and-review-cycle_fig1_324816198