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A Jornada de um Estudante

Um Blog sobre aprender, ensinar e criar online.

A Jornada de um Estudante

Um Blog sobre aprender, ensinar e criar online.

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Photo by Evan Dennis on Unsplash

"Problemas não são sinais de STOP, são diretrizes." - Já dizia Robert H. Schuller. Já pensaste porque apontamos tantos problemas, mas procuramos a solução para tão poucos? Talvez por ser mais fácil apontar que solucionar. Talvez porque pensamos que não são os nossos problemas. Mas serão de quem, então?

Apontar problemas é fácil. Difícil é resolvê-los. Difícil também é metermos na cabeça que os vamos resolver, ou pelo menos procurar uma solução. O que já é mais do que a maioria faz. Mas como fazê-lo? Como pegar nos problemas e moldá-los à sua forma mais simples para ser assim mais fácil solucioná-los?

Vou apresentar-te, de seguida, um modelo mental que poderás utilizar. Modelo mental esse que já todos tivemos. Uns ainda o têm, uns mais que outros, mas em certa altura da nossa vida ele definia-nos.

Uma nova forma de encarar os problemas

Já pensaste porque é que as crianças perguntam "Porquê?" a praticamente tudo o que lhes dizem? A curiosidade delas é tão grande que não se conseguem conformar com uma história incompleta. O seu raciocínio não pode ter pontas soltas, e se assim tiver, fazem de tudo para que não haja. Nem que inventem uma explicação. Muitas vezes errada, mas é a que fez sentido para elas.

Ter genuína curiosidade no problema, faz com que queiramos saber mais sobre ele. Questiona o problema o suficiente até chegares ao cerne da questão.

"Porque é que existe este problema?" "Como é que ele apareceu?" "Como é que ainda não existe solução?"

Ao questionarmos e desbravarmos todos os detalhes do problema que temos diante de nós, é que conseguimos perceber o que falta e o que não falta para a sua resolução.

Claro que os problemas com que nos deparamos hoje em dia, não se comparam nem de perto aos problemas que tínhamos em crianças. Mas, utilizando a mesma abordagem, pode ajudar-nos a olhá-lhos de uma perspetiva diferente.

Solucionar problemas requer coragem

Nem todos os problemas com que nos deparamos são simples e objetivos. Uns são mais complexos que outros. Uns influenciam o nosso dia-a-dia mais que outros. A verdade, é que o ser-humano tem medo do desconhecido. Independentemente do que possa estar por trás da cortina, apenas pelo facto de não estar, é assustador. Tudo e mais alguma coisa começa a passar-lhe pela cabeça, mas isso não é sinal que ele deve parar.

A procura por um caminho melhor requer coragem e persistência. Não sabemos qual o caminho que procuramos, mas procuramos por um caminho melhor do que aquele que nos é apresentado diariamente. E quando isso é feito de forma resiliente, tudo é recompensado no futuro.

Alguma coisa é sempre melhor que nada

Por muito que façamos, às vezes, parece que nada é suficiente. Parece que não chegámos onde idealizámos chegar. Na verdade, não sabemos onde chegámos sequer, nem onde tencionamos chegar, de seguida. O lado positivo, é que uma jornada à procura de uma solução, não nos oferece apenas a solução. Oferece-nos também tudo o que com ela aprendemos.

Por isso, questiona inteiramente o problema que tens em mãos. E, se na tua luta, não chegares onde idealizaste chegar, lembra-te que ela não te traz só a solução, como também uma panóplia de outros ensinamentos. Aproveita-os.

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Photo by Jesse Martini on Unsplash

Na idade média, a memória servia de veículo para transmitir os conhecimentos da época às gerações seguintes. Os povos memorizavam os seus experimentos, tanto o que corria bem como o que corria mal. Como não havia qualquer forma de os armazenar para alguma pesquisa posterior, e a escrita também não estava acessível para a maioria da população, a memória era assim a única ferramenta que tinham para passar conhecimento às gerações futuras.

Com o passar do anos, a escrita foi tornando-se cada vez mais acessível e recorrente. Estando ao alcance de mais pessoas o guardar de experiências através dela. Devido a isso, começou a questionar-se o papel da memória.

Com o aparecimento das mais diversas ferramentas de armazenamento de conteúdo, como a escrita, o áudio e o digital, será na mesma necessário memorizar certos factos ou experiências que agora são facilmente pesquisáveis?

É fácil cair na falácia de que a memória já não é tão útil como antes. As gerações futuras já não dependem daquilo que nos lembramos ou não do passado. Elas podem facilmente ler, ouvir e pesquisar a esse respeito. Fazendo com que o que sabemos do passado pouco ou nada interesse para o seu conhecimento.

A verdade é que a memória nunca deixou de ser importante. Sim, hoje já não dependemos dela para isso, mas dependemos dela para muitas outras coisas.

Como o Psicólogo Marc Smith escreveu no seu Blog em 2012: "Memorising facts can build the foundations for higher thinking and problem solving. Constant recitation of times tables might not help children understand mathematical concepts but it may allow them to draw on what they have memorised in order to succeed in more complex mental arithmetic."

Tomemos como exemplo a seguinte frase:

"O índice mitótico, um parâmetro para o estudo do ciclo celular, informa-nos sobre o número de células em mitose numa população de células em estudo".

Se não soubéssemos pequenos conceitos como "índice mitótico", "ciclo celular" e "mitose", teríamos de pesquisá-los apenas para conseguir perceber a frase. Já para não falar de que não conseguiríamos ter uma conversa fluida e informada sobre o tópico não sabendo os básicos do que se trata.

Outro bom exemplo da importância da memória é o de Simon Eskildsen, um jovem dinamarquês apaixonado pela leitura e aprendizagem. Numa entrevista, sobre o quão a memória é subestimada, ele disse: "For example, memorizing all of the U.S. presidents is something that people might think is for show. But to me it’s actually really helpful to know who was president at a certain time because it allows you to connect the president with that time period."

Com isto, não digo que temos todos de ser como Simon e decorar todos os Presidentes do EUA. Mas temos de concordar que ao sabê-los, conseguimos ter conversas mais fluidas e informadas cronologicamente sobre esse tópico. Não estando dependentes da pesquisa para sabermos pequenos pormenores ou factos que poderíamos saber de antemão.

Concluindo, antigamente, a memória era fundamental para passar experiências de gerações em gerações. Hoje em dia, temos outras ferramentas que nos ajudam a transmiti-las e ainda de forma mais precisa. Contudo, a memória continua a ser importante no nosso dia-a-dia para interpretar, atuar e falar de forma continuamente informada.

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Photo by Kelly Sikkema on Unsplash

A 23 de agosto de 2018 comecei esta aventura de escrever online. Criei o Blog: A Jornada de um Estudante, e escrevi aqui desde então. Inicialmente, servia para partilhar as minhas ideias sobre o que lia, com o intuito de melhorar a minha escrita, mas resultou em algo mais. Ao fim de dois anos a regar esta pequena semente, cheguei à conclusão que escrever mudou a minha vida.

Ao longo do tempo, fui vendo a escrita com outros olhos. Via-a como um compromisso. Um compromisso em que quanto mais eu a praticava, mais ela me dava em troca.

Hoje venho falar sobre a escrita. Pode ser que ela vos ajude tanto como me ajudou a mim.

Porquê escrever?

Escrever é uma atividade que é subestimada por muitos. Não se trata apenas de desenhar algumas letras em papel ou teclar no computador durante algum tempo. Trata-se sim de olharmos para dentro de nós, e passarmos para o papel o que quer sair. Quem diria que tal coisa traria tantos benefícios. Vou citar apenas alguns deles:

  • Dá-te clareza do pensamento e da comunicação

Escrever dá-te clareza. Não só melhoras o pensamento, como consequentemente escreves e falas melhor. Numa sociedade em que existe tantos mal-entendidos e expressões mal interpretadas, saber o que se quer dizer e dizê-lo bem, é uma mais valia. Como Jordan B. Peterson disse: "The person who can formulate and communicate the best argument almost always wins."

  • Ajuda-te a relembrar o que lês

Tirar notas ainda é das melhores técnicas para percebermos e relembrarmos aquilo que lemos. Ao escrevermos, significa que estamos a pensar ativamente no assunto e não só a passar os olhos pela informação.

  • Melhora a Saúde Mental

A escrita, quando passa por colocar o que sentimos e o que vivemos no papel, pode ajudar a perceber melhor as situações. Experiências quando escritas, são vistas de forma diferente. Traduzem-nas em acontecimentos mais palpáveis e compreensíveis. Estudos têm mostrado que hábitos como este podem ajudar a ultrapassar situações de depressão e ansiedade.

Como começar a escrever?

Independente de onde e do que escrevas, o importante é escrever. Queres escrever publicamente? Podes pensar em criar um Blog. Queres escrever só para ti? Podes ter um diário. Esta parte, é inteiramente por tua conta. Escrita, seja ela sobre o que for, quando feita de forma consistente e regular, traz sempre pontos positivos.

Por último, peço que não escrevas por escrever. A escrita é uma atividade nobre e é uma pena quando feita "só porque sim". Escreve o que gostas e abraça a experiência. Tenho a certeza que não só vais apreciar muito mais a jornada como vais aprender mais com ela.

Evoluí muito nestes últimos dois anos, devo muito disso à escrita. Talvez ela te ajude também. Só ao escrever saberás. Boa escrita.

O debate pelos diferentes métodos de estudo é polémico. Uns dizem que aprendem melhor com esquemas, outros a ler e reler matéria, outros a ouvi-la e outros até a colocá-la em prática; a verdade é que estudos mostraram que preferências por um estilo específico de aprendizagem pouco importa para o resultado final do trabalho. Existem métodos que resultam melhor que outros independentemente das preferências.

Infelizmente, ao longo do nosso percurso académico, pouco ou nada nos ensinaram sobre como estudar. Sempre nos deram deveres e material para isso, mas nunca nos ensinaram a meter as mãos na massa e a trabalhar de forma mais eficiente. Preocuparam-se mais com o resultado final do que com a forma como chegámos até ele. Assim, criámos crenças erradas sobre como estudar e tomámo-lo como chato e difícil por natureza.

Mas não tem de ser sempre assim, como vais aprender ao longo deste artigo. Muitos desses sentimentos passam pela forma como estudamos e não pelo estudo em si. Vamos começar por ver alguns métodos de estudo que deves abandonar.

Alguns métodos ineficazes

  • Ler e Reler

Frequente de ser utilizado, porém, pouco eficiente. Ler não mergulha o estudante de forma suficientemente ativa no estudo, ficando difícil reter a informação.

  • Sublinhar

Todos nós em algum momento da nossa vida já sublinhámos alguma coisa enquanto estudávamos. Costuma dar a sensação de que estamos a ser produtivos, quando vemos os apontamentos todos sublinhados. Mas infelizmente, após todo esse trabalho, pouco ou nada foi realmente aprendido. Apenas sublinhar, também não é um método eficiente.

Métodos como estes dois têm algo em comum: passam por forçar o conteúdo a entrar. Porém, ao contrário deles, estudos mostraram que é mais eficiente forçar o conteúdo a sair. Ora questionando o que sabemos, o que lemos ou o que pensamos.

Um método mais eficiente

O que passa por ler, reler e rezar para que esse conteúdo entre nas nossas cabeças de uma vez por todas, facilmente poderá ser substituído por deixá-lo sair.

O facto de relembrar e tentar dizer ou escrever o que aprendemos, faz com que essa informação se retenha no nosso cérebro mais facilmente. Até os momentos que possamos ter de "Eureka!", após pesquisarmos a resposta de uma pergunta que não sabíamos, podem resultar como alicerces para não nos esquecermos deles. Este método traz-nos a vantagem de percebermos aquilo que sabemos e o que não sabemos, havendo sempre espaço para melhoria.

Claro que esta abordagem requer mais esforço, mas é por isso mesmo que a faz ter tantos resultados. Pois quão mais ativa a aprendizagem for, mais eficiente ela será.

Como a podemos incluir nos nossos estudos?

Em 2016, Cal Newport escreveu em "Deep Work" a fórmula:

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Fica claro que o tempo que trabalhamos não é a única variável para um resultado de qualidade. Quando não asseguramos também a concentração, o trabalho final fica comprometido.

Tendo isto em conta, seguem-se algumas dicas exequíveis que poderás utilizar:

  • Trabalha durante curtos períodos de tempo

Seja 25, 30 ou 45 minutos, tu é que decides o tempo. Lembra-te que não interessa se o tempo que escolheres for muito reduzido, desde que durante esse período estejas completamente focado, estás num bom caminho. Tenta não ultrapassar os 45 minutos de estudo seguido, pois a capacidade de foco diminui gradualmente ao longo do tempo. É mais eficiente tirar uma pausa de 5 minutos e retomar depois. Podes utilizar por exemplo a Técnica Pomodoro para facilitar o processo.

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  • Parafrasear e refletir

Como vimos, ler informação de forma passiva não é a forma mais eficiente de aprender. Escreve por palavras tuas e reflete no que leste. Questiona cada frase e certica-te que cada ponto te faz sentido e que o conseguirias explicar a uma criança de 5 anos. Isto é o suficiente para que a leitura valha a pena.

  • Cria bancos de perguntas e respostas

Questionares-te sobre o tema que estás a aprender é uma excelente forma de não só perceberes se sabes o conteúdo, como também de o reteres por mais tempo. Na criação destes bancos, podes utilizar aplicações como Notion e Anki. Podes ver alguns tutoriais para te ajudar. Eu recomendo este para o Anki. Caso prefiras não utilizar aplicações, o Excel também costuma resultar bastante bem.

  • Faz uma tabela com a data em que utilizaste cada banco de perguntas

A nossa memória tende a esquecer-se das coisas ao longo do tempo. É o processo natural. Mas, isso não significa que não consigamos fazer nada em relação a isso.

Digamos que hoje estudaste Biologia. Daqui a 3 dias, estudas outra vez e reparas que te esqueceste de mais de metade da matéria. Revês, e só estudas depois passado 7 dias. Ao fim de 7 dias, vais concluir que te esqueceste de alguma matéria, mas não tanta como na revisão anterior.

É assim que a memória funciona. É ao longo do tempo e faseadamente que o teu cérebro vai retendo verdadeiramente toda informação que estás a aprender.

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Algumas vantagens

Estas abordagens de aprendizagem ativa não só são mais eficientes para reter informação a longo prazo, como também mostraram diminuir o niveis de ansiedade no momento dos exames finais.

Em 2014, foi realizado um estudo para perceber a relação entre um método ativo de aprendizagem - Retrieval Practice - e os níveis de ansiedade. Com uma amostra de mais de 1400 estudantes do ensino básico e secundário, concluiu-se que 92% dos alunos sentiram que este método os ajudou a entender melhor a matéria e 72% referiram que os ajudou a experienciar menos ansiedade no decorrer do exame final.

Estudar não tem de ser sempre chato e aprender não tem de ser sempre difícil. Existem métodos que nos fazem crer mais, ou menos nisso. Faz as adaptações que achares melhor ao teu e aprende realmente aquilo que estudas de forma mais fácil e prazerosa.

Notas:

Imagem da Técnica Pomodoro foi retirada de: https://www.estudaqui.com/wp-content/uploads/2019/04/tecnica-pomodoro.jpg

Imagem da curva do esquecimento foi retirada de: https://www.researchgate.net/figure/Ebbinghaus-forgetting-curve-and-review-cycle_fig1_324816198

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Photo by Tim Gouw on Unsplash

A aprendizagem ocorre com a obtenção de modelos mentais. É com a perceção que ao pedalar as rodas da bicicleta giram, que chegamos à conclusão que temos de pedalar para que a bicicleta se mova. Frequentemente, para obtermos modelos mentais novos, temos de deitar por terra outros previamente adquiridos.

Porque razão os adultos têm geralmente mais dificuldade em trabalhar com nova tecnologia que os jovens?

Porque razão as crianças "nascem a saber trabalhar com tecnologia"?

Ao longo de toda a nossa vida, aprendemos habilidades para saber trabalhar com algo. Mas isso não significa que servirão para trabalhar com algo parecido no futuro. Por vezes, é preciso desaprender para aprender novamente. E quanto mais rapidamente nos apercebermos disso, mais rapidamente vamos conseguir aprender o funcionamento do mundo ao nosso redor.

Como Mark Bonchek chegou a dizer:

Unlearning is not about forgetting. It’s about the ability to choose an alternative mental model or paradigm.

O mundo está em constante evolução. Há que ter a coragem de largar ideais antigos e abraçar novos. Pois serão essas novas aquisições que nos levarão a compreender os novos conceitos que o tempo nos vai trazendo.

Então, e quem nunca aprendeu a forma antiga de pensar? Terá na mesma de desaprender? - Perguntas tu - Não, não terá. Isso explica o porquê das crianças se acostumarem mais facilmente às novas tecnologias que as gerações mais velhas. Para elas, essa tecnologia é a habitual. Não têm ideais, crenças ou modelos mentais antigos que entrem em conflito com os atuais. Fica assim mais fácil aprender.

Desaprender é o truque para mais e melhores aprendizagens. Por vezes, é o que sabemos que nos impede de saber mais. Identificando esses pontos e encontrando outros que os substituam, para melhores retornos, por vezes, é o melhor a ser feito.

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Photo by Robert Collins on Unsplash

Como vimos no artigo anterior - Como evoluiu a Educação que conhecemos nos dias de hoje - as crianças têm o instinto natural de aprender. Vimos que não é necessário ninguém andar atrás delas, pois ao explorarem e brincarem conseguem aprender por elas próprias. Vêem os adultos a fazerem as suas tarefas domésticas e replicam-nas para as suas brincadeiras. Aprendendo quase que inconscientemente aquilo que elas necessitarão de saber no futuro.

Mas a pergunta é: conseguiriam elas aprender na mesma tudo o que lhes é ensinado na escola nos dias de hoje?

Sim, conseguiam. E já existe algumas escolas que o comprovam.

Temos por exemplo a Sudbury Valley School. Escola esta que o seu método de ensino influenciou a fundação de mais escolas com um método de ensino semelhante por todo o mundo, como por exemplo: no Brasil, Alemanha, Suíça, Japão, entre outras.

A Sudbury Valley School localiza-se em Massachussetts, nos EUA. É privada e foi fundada em 1968. O seu modelo de ensino consiste em três focos principais: ensino livre, democracia e responsabilidade pessoal. Aceitando alunos desde os 4 até aos 19 anos. Vamos conhecer um pouco mais sobre esta escola.

A escola funciona com cerca de 200 estudantes e 10 adultos membros do Staff. Todas as semanas, existe uma reunião em que se discute não só as regras como os valores da escola. E uma vez por ano, juntam-se para avaliar os membros do Staff. Defendendo uma democracia, um voto de um aluno de quatro anos tem o mesmo peso que um voto de um aluno mais velho.

As únicas regras que existem na escola são as que são acordadas nessas mesmas reuniões, não existindo quaisquer regras ligadas diretamente à aprendizagem. Existem apenas regras de bom funcionamento da escola, como por exemplo: cumprir regras de espaços, arrumar aquilo que se tirou do sítio, entre outras.

Os alunos são inteiramente responsáveis pelo seu tempo. Decidem o que querem aprender e quando querem aprender. Existe a possibilidade de haver cursos mais específicos, tendo estes de serem organizados pelos alunos interessados, com a duração que eles acharem melhor. Há alunos que não chegam a frequentar nenhum curso em específico.

Não há testes, nem nenhuma forma de avaliação e a escola não avalia o progresso de aprendizagem dos alunos.

Os membros do Staff não são considerados professores. São adultos que estão presentes caso os alunos precisem deles. Ora seja para lhes explicarem algo em específico que eles queiram saber, ora apenas para conversarem e partilharem ideias estimulantes entre eles.

No site da referida escola [1], na secção de "perguntas e respostas", encontrei uma resposta especialmente interessante. À pergunta "What are some of the things that are happening around the school from day to day?", a escola respondeu:

It's impossible to describe the full range of activities going on. People are playing basketball and riding bikes and reading books. They're talking about what they did over the weekend, talking about political issues, talking about anything that might come up in a conversation between two people. They're meeting new people, swinging, eating. At any moment, some of them might be studying traditional subjects in a traditional manner, but most of them won't. There will be people stuck away in a corner reading some book they found on a shelf, or a book they brought with them, others painting or playing music, others interacting in various ways, through playing multi-player computer games, board games, Dungeons and Dragons or cards.

Esta é a Sudbury Valley School. Um local que incentiva a exploração, lazer e aprendizagem de matérias que realmente interessam ao aluno naquele momento, tirando partido da curiosidade inata que o ser humano tem.

Notas:

[1] - https://sudburyvalley.org/

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Imagem retirada de: https://www.pinterest.pt/pin/474918723187318415/?nic_v2=1a2nljNPR

A educação que vemos nos dias de hoje, em que um professor se junta a um grupo de alunos para ensinar um determinado tópico, nem sempre foi assim. E, para perceber como chegámos até aqui, temos de voltar atrás alguns milhares de anos.

Antes do aparecimento da agricultura, os povos dedicavam-se à caça e à coleção para obterem alimento. Para isto, eles tinham de ter elevados níveis de conhecimento para poderem fazer o que faziam de forma eficaz e segura, tais como: saber os hábitos dos animais que caçavam, que animais caçar, como prepará-los para comer, como matar, tinham de saber também a época dos frutos e sementes que coletavam, onde costumavam aparecer, como se comiam e muitas outras coisas. Informações essas que só eram obtidas com o explorar e aprender fazendo.

Nessa altura, as crianças desses povos aprendiam observando o que os adultos faziam. Exploravam e brincavam com o que tinham.

Com o aparecimento da agricultura, muitos desses costumes mudaram. Os povos perceberam que cultivando conseguiam facilmente maiores quantidades de alimento e de forma mais segura.

Da mesma forma que os povos mudaram com a agricultura, também o status evoluiu. Quem tinha posse de terras aproveitava-se de quem não tinha, explorando-os. O tempo das crianças que antes era a explorar o mundo e a aprender com ele, agora era passado a trabalhar nos campos ajudando a sustentar a familia.

Mais anos passaram e, com a indústria, o feudalismo diminuiu. Não melhorou a vida das crianças uma vez que os donos extraíam delas o maior número de horas de trabalho possíveis. Trabalhavam quase todo o dia, sete dias por semana, terminando com a implementação da legislação que limitava o número de horas de trabalho semanal das crianças. Apesar disso, a carga horária continuava elevada.

Com a indústria cada vez mais automatizada, o trabalho infantil diminuiu. Com isto, começou a ideia de que as crianças precisavam de aprender temas específicos. 

Inicialmente, a educação baseava-se no ensino da leitura e da religião. Só mais tarde, quando se começou a preparar os jovens para o exército é que se incutiu matérias como lições de moral, latim e matemática. Sendo que aí, o método de ensino já era muito parecido com o dos dias de hoje: um professor com alunos numa sala de aula, que preparou anteriormente o que vão aprender naquele dia.

Desde então até agora, pouco mudou. E o tempo que as crianças tinham para brincar desde o aparecimento da agricultura, pouco aumentou também. As horas que outrora passavam no campo a tentar ajudar o sustento para a família, são as horas que hoje passam numa sala de aula e em casa a fazer os trabalhos para o dia seguinte. Estudos científicos mostraram que um terço das crianças com idades compreendidas entre 5 e 12 anos, passam menos de uma hora por dia na rua. Tempo esse que é inferior ao que os prisioneiros têm de recreio nos dias de hoje [1].

Concluindo, como vimos, há alguns milhares de anos atrás, com todo o tempo livre que as crianças tinham nas mãos elas conseguiam aprender muito. Hoje, já não têm esse tempo todo disponível. Mas, será que se elas o tivessem de volta conseguiriam aprender na mesma? Conseguiriam elas aprender na mesma tudo o que lhes é ensinado na escola hoje em dia? Na verdade, sim, conseguiam. Mas essa é uma história para outro dia.

Notas:

[1] - https://fee.org/articles/inmates-spend-more-time-outside-than-kids/

Chegou o dia: 6 de agosto de 2020. 366 posts publicados no decorrer de um ano, um post por dia. A jornada foi longa, quando comecei não esperei inicialmente que a ia completar, mas a verdade é que completei e hoje venho falar sobre ela.

A 6 de agosto de 2019 publiquei o primeiro post desta aventura. Vinha de um período em que não publicava há quatro meses devido a alguns problemas que tinha tido e, quando comecei, inspirado por Seth Godin, resolvi publicar todos os dias por tempo indeterminado.

Um mês passou e decidi relatar a experiência até então aqui. Sentia-me bem e orgulhoso de mim mesmo. Não sabia por quanto tempo ia durar a jornada, mas a verdade é que me estava a dar um gozo enorme e queria continuar.

De um mês para um ano foi um saltinho. Onze meses passaram e aqui estou eu a relatar o final desta aventura. Sim ouviram bem, o final. É disso também que vos quero falar hoje.

Foi um ano a escrever e publicar diariamente. Queria obrigar-me a escrever todos os dias, já que as minhas tentativas anteriores não tinham sido bem sucedidas, esta foi a maneira mais extremista que arranjei. E, claro que também queria que a minha escrita fosse evoluindo com o tempo. Como acredito que a quantidade leva à qualidade, esse propósito também estava implícito a cada post que escrevia.

Um ano passou e escrevi muito durante este período. Pratiquei muito, pois, como disse, publiquei 366 peças novas de conteúdo aqui no blog. Mas, daqui para a frente vai ser diferente.

A partir de hoje, vou limitar os meus posts a um ou por vezes dois por semana. Ao longo deste ano foquei-me muito na quantidade. A qualidade com isso cresceu, é verdade, mas quero focar-me ainda mais nela. Escrever posts que requerem mais pesquisa, mais pensamento e que sejam basicamente mais bem escritos. Se gostam do que tenho escrito até aqui, certamente irão gostar daqueles que aí vêm.

Quero agradecer a cada um de vocês que tem visitado aqui o blog diariamente para ler o que eu tenho para dizer. Para não perderem nenhum post, sempre me podem seguir no Facebook, Instagram e no Twitter. Por lá vou avisando quando há conteúdo novo aqui no Blog e, exclusivamente no Twitter, costumo partilhar mais ideias que poderão gostar de ler.

No próximo domingo, dia 9, sai o primeiro artigo deste novo capítulo, não percam.

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Photo by Aaron Burden on Unsplash

Ontem acabei a leitura d'"Os Irmãos Karamázov", por isso hoje venho falar um bocado desta aventura.

A narrativa gira em torno da família Karamázov em que cada um dos intervenientes tem a sua própria visão do mundo. Fiódor Pávlovitch, o pai, que vive de excessos tendo ascendido socialmente graças ao dote das suas mulheres que vieram a falecer. Aliocha, o filho mais novo e certamente o mais honrado da família, desde cedo revelou um lado mais misterioso, passando depois a viver num mosteiro. Ivan, o filho do meio, uma pessoa intelectual e analítica, que questiona as convenções tradicionais de moralidade. E por último, Dmitri, o filho mais velho e também o filho mais parecido com o pai, uma pessoa ciumenta, insegura paranóica e que também ele vive de excessos.

Mais uma vez, fui influenciado por Jordan B. Peterson para ler este livro. Esta foi certamente a obra mais complexa que li até hoje. O livro é muito denso e explora muito questões relacionadas com o livre-arbítrio, leis morais e a existência de Deus. Sinto que é um livro que a cada leitura que faça, consigo sempre encontrar pormenores não encontrados na leitura anterior. E, quiçá, talvez o leia daqui a uns anos outra vez para isso mesmo.

Apesar de tudo, o livro é espetacular. Não é por acaso que é conhecida como a maior obra de Dostóievski e mesmo Freud o disse. Um livro de destaque que merece certamente um lugar na estante de qualquer casa.

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Foto da minha autoria

04 Ago, 2020

Talento vs Trabalho

Uma pré-adquirida, outra não.

O talento, quando aproveitado com trabalho, pode ser muito bem recompensado. Contudo, uma pessoa que não tenha tanto talento, se trabalhar ainda mais, é possível que seja mais bem recompensada.

O trabalho pesa sempre mais que o talento.

Tal como o conhecimento não serve de nada quando não é posto em ação, o talento também não faz milagres quando não é utilizado.

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Photo by Clark Young on Unsplash

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